Uma grande vitória para a esquerda paraguaia !

 

No último dia 15 de novembro, aconteceram as eleições municipais nas 250 cidades do Paraguai, que mesmo com a vitória Colorada em 147 delas (58,8%), um novo cenário se apresenta, com o claro crescimento da oposição, com o Partido Liberal Radical Autêntico alcançando a vitória em 76 cidades (30,4%), além de outras coalisões progressistas que venceram em 10% das cidades. A vitória em Asunción de uma frente ampla de partidos de esquerda, liderada por Mário Ferreiro, mexe profundamente com o cenário político e abre novas perspectivas para o conjunto da esquerda Paraguaia.

E o que há de novo nesse cenário?

Com uma frente ampla hegemonizada por partidos de esquerda e movimentos, denominada “Juntos Ganamos” em aliança com o Partido Liberal Radical Autêntico, se pôs fim a hegemonia de 20 anos de governo Colorado na capital Asuncion, maior colégio eleitoral do país. Mesmo sob forte ataque da elite da capital, das igrejas Católica e Evangélica que orientavam seus fiéis a não votarem, além de falsas acusações de envolvimento em sequestros acontecidos 15 anos atrás, em uma clara tentativa de desmoralização e criminalização da candidatura, a frente liderada por Mário Ferreiro obteve 51% dos votos válidos, contra 40% do candidato Colorado que também contava com todo o apoio da máquina do governo central e da elite local.

Com a vitória de Mário Ferreiro na capital, abre-se uma nova perspectiva política para a esquerda no Paraguai, profundamente fragilizada depois do golpe sofrido por Fernando Lugo. Além da nostalgia de ter conquistado a capital e as duas principais cidades do interior do país, derrotando o principal partido conservador, os desafios colocados para a nova frente vão muito além de governar Asuncion, abre a possibilidade de viabilizar uma candidatura dos campos mais progressistas para retomar o governo central do Paraguai.

Apesar do Partido Colorado continuar comandando mais de 50% dos colégios eleitorais do país, a capital é um espaço estratégico, que pode viabilizar uma liderança importante na disputa da presidência em 2018.

Quais os desafios?

O primeiro desafio é unificar os campos progressistas. A Frente Guazu, partido do ex-presidente Lugo, saiu com candidatura independente, alcançando 5%. Além disso, não compareceu aos postos de fiscalização das mesas de votação, o que poderia comprometer a lisura do processo e a vitória da Frente “Juntos Ganamos” (no Paraguai, as mesas de votação são coordenadas por representantes de partido, proporcionalmente a sua representação no parlamento nacional).

O segundo é se manter no campo progressistas e avançar no programa apresentado durante a campanha, que entre outros pontos, propõe que os espaços a serem ocupados na estrutura do novo governo tenham paridade entre homens e mulheres, a participação popular nas decisões e nos rumos do governo e principalmente o combate à corrupção e o fortalecimento da transparência.

O terceiro e fundamental é ter uma atenção com a influência política que terá o Partido Liberal Radical Autêntico no governo e nos rumos dessa frente de oposição, já que tiveram grande importância e peso político na vitória em Asuncion e nos demais municípios, não à toa se consolidando como a segunda maior força política do país. Apesar de publicamente os dirigentes do PLRA terem anunciado que a aliança com essa frente está consolidada em torno de um projeto para 2018 e de ter sido necessária para essa vitória pontual, há muita desconfiança, principalmente dos partidos de esquerda que a compõem, sobre a permanência, de fato, deste setor no campo da oposição.

A vitória em Asuncion escreveu uma nova página política no Paraguai e na América Latina, cheia de perspectivas, pois não é só uma vitória da esquerda paraguaia, mas, sobretudo, uma vitória para a esquerda latino-americana, que vive um momento de retrocesso em países estratégicos importantes como Venezuela, Argentina e Brasil. A vitória da Frente “Juntos Ganamos”, deve ser vista com muita alegria por toda a esquerda da América Latina, acompanhada e principalmente disputada, se for o caso, pois representa um passo e resposta importantes aos milhares de homens e mulheres que se mantêm firmes na luta por uma América Latina socialista.

Viva a esquerda paraguaia, viva a esquerda da América Latina!

Maykon Magalhães,

Diretório Nacional do PSOL

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