Chabu: Secretária de Gean testou bloqueadores de celular na Prefeitura
A Secretária Municipal de Administração, Katherine Schreiner, participou de testes com equipamentos de contra-espionagem, em maio de 2018, na sede da Prefeitura de Florianópolis. Os testes envolviam micro-câmeras e bloqueadores de sinal de celulares, contrabandeados do Paraguai. As informações constam de um relatório parcial da Operação Chabu, da Polícia Federal, datado do dia 17 de setembro deste ano.
Segundo mensagens trocadas por meio do aplicativo Whatsapp a qual a PF teve acesso, Katherine recebeu o empresário José Augusto Alves na sede da Prefeitura no dia 10 de maio de 2018, às 14 horas. Após receber os equipamentos ilegais, Katherine envia uma mensagem por Whatsapp para Alves. Ela diz que mostrou os equipamentos a Constâncio Maciel, Secretário Municipal da Fazenda que também é investigado na Operação. Ela reclama que os equipamentos não teriam funcionado corretamente.
Diálogo de 10 de maio de 2018 entre Katherine Schreiner e José Augusto Alves
Katherine: Oi, vou precisar de um apoio aki amanhã.
21:41:35Katherine: Fui mostrar p Constancio e n funcionou 100%
21:42José Augusto Alves: blz amanhã damos uma olhada
22:07
José Augusto Alves: ok
22:07Katherine Schreiner: ok
22:07
Em depoimento à Polícia Federal, Katherine confirmou o encontro com Alves. No entanto, ela alegou “não estar interessada” nos bloqueadores de sinal de celular, mas sim, nas micro-câmeras de filmagem. Segundo relatou à PF, Katherine pretendia gravar reuniões de negociação salarial com o Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal (Sintrasem), sem o conhecimento do sindicato, para utilizar as gravações contra a entidade, caso necessário.
Segundo o relatório da PF, os testes de aparelhos contrabandeados na sede do executivo Municipal, aliado a outras mensagens obtidas pela PF, reforçam a tese de que o Prefeito Gean Loureiro buscou construir uma “sala-segura”, um espaço no interior da Prefeitura onde não pudesse ser gravado ou ter seu telefone interceptado.
Entenda o caso
A Operação Chabu investiga uma organização criminosa formada por políticos, empresários e policiais federais, formada para vender serviços de contra-espionagem para agentes públicos. Os policiais obtinham informações sigilosas de investigações contra políticos, e repassavam ao núcleo empresarial. Estes vendiam as informações, assim como prometiam equipamentos que os deixassem imunes contra investigações, como celulares à prova de escutas. Em troca, o núcleo político nomeava parentes dos envolvidos em cargos públicos e abria as portas para a compra de softwares sem licitação.
Segundo a PF, os equipamentos de contra-espionagem foram contrabandeados do Paraguai. Eles ingressaram em território brasileiro em um táxi de fundo falso, utilizado para atravessar a fronteira com o Brasil.
O empresário José Augusto Alves é apontado pela PF como o pivô do esquema de contra-espionagem. Segundo a PF, o Prefeito Gean Loureiro era um dos clientes do esquema, e teria a intenção de criar uma “Sala Segura” dentro da Prefeitura. O objetivo era evitar interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça. Gean chegou a ser preso e afastado do comando da Prefeitura por uma semana, mas logo depois foi liberado e retornou ao cargo.