Para não esquecer: saiba quem votou pela doação de empresas a partidos

Um dia depois de impor uma dura derrota ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e rejeitar o financiamento empresarial de campanha, o plenário da Casa aprovou na noite desta quarta-feira (27) uma emenda que autoriza as doações de empresas aos partidos políticos e não diretamente aos candidatos. A matéria foi aprovada por 330 votos a 141 e 1 abstenção. O PSOL, o único partido com representação na Câmara sem envolvimento com as empresas citadas na Operação Lava-Jato, mais uma vez manteve a sua coerência e se posicionou contrário à medida.

A votação só foi possível devido à manobra feita pelo presidente Eduardo Cunha, que desconsiderou completamente a votação do dia anterior. A bancada do PSOL entrou em obstrução, uma vez que a votação do financiamento empresarial já havia sido derrotada.

Segundo o líder, deputado Chico Alencar, “essa manobra de Cunha não tem base legal” e o PSOL irá recorrer. “O embate de ontem foi entre aqueles que defendem que a política pode ser privatizada e sequestrada por entidades econômicas, e aqueles que acreditam na política como um instrumento da cidadania”, considera o líder.

Para o deputado Ivan Valente (SP), a sociedade brasileira precisa repudiar este golpe, exigindo que o Senado rejeite a legalização da corrupção eleitoral. “A ‘reforma política’ de Cunha é uma desmoralização para o parlamento, já que seu único objetivo, que motivou inclusive a manobra do presidente da Câmara, era incluir o financiamento empresarial na Constituição Federal, para driblar o julgamento do STF em que a maioria dos ministros do Supremo já haviam se manifestado pelo fim deste tipo de financiamento que, comprovadamente, está na raiz da corrupção política no país”, considera.

Jean Wyllys (RJ) faz coro com os colegas de bancada e avalia que financiamento empresarial de partidos significa privatização da política “para que as empresas, as corporações econômicas, o poder do dinheiro mande e desmande”. Ele ressalta que “empresa não doa, faz investimento, e recebe em troca muito mais do que investiu. Não é por acaso que 255 dos atuais 513 deputados federais receberam para suas campanhas dinheiro das empreiteiras envolvidas na Operação Lava-Jato”, questiona.

O presidente nacional do partido, Luiz Araújo, espera que a sociedade se indigne e que a proposta seja rejeitada no Senado Federal. Em relação ao texto que foi aprovado, que permite a doação para partidos e não para as candidaturas, o presidente do PSOL avalia que a modalidade aprovada é mais eficiente do que a doação aos indivíduos, “por que dificulta identificar o beneficiário direto da roubalheira”. “Doando aos partidos, as empresas não deixam clara a impressão digital do destinatário. E os partidos podem, de forma tranquila, repassar para o político que conseguiu o dinheiro”, critica.

Segundo ele, a votação de ontem mostrou que os grandes partidos querem deixar tudo como está. “O PT, abalado pelos escândalos, teve que votar contra, mas no fundo a cúpula partidária torcia para que a proposta vencesse. O PSDB, que tem o mote da corrupção petista, não quer que as suas torneiras de financiamento sejam fechadas por que as do PT foram descobertas, afinal de contas os dutos financeiros são coincidentes. Sobre o PMDB nem vale gastar tempo falando”, argumentou.

O PSOL seguirá na luta, no Congresso e nas ruas, para enfrentar os interesses do grande capital.

Confira como votaram os deputados (sim é favorável a PEC que permite o financiamento privado)