Sete mentiras sobre a Vaza Jato, Glenn Greenwald e o The Intercept
No último dia 9 de junho, três reportagens exclusivas do site The Intercept, editado pelo jornalista Glenn Greenwald, revelaram segredos e condutas nada republicanas dos responsáveis pela Operação Lava-Jato. Pouco mais de uma semana após as revelações, novos trechos divulgados mostram, cada vez mais, parcialidade e as condutas supostamente ilegais tomadas por procuradores e pelo ex-juiz Sérgio Moro. O PSOL chegou a pedir para o ministro comparecer à Câmara dos Deputados para prestar esclarecimentos.
No meio desse turbilhão, várias notícias falsas tem sido espalhadas para desacreditar as reportagens, atacar seus autores e elaborar teorias conspiratórias. Recebeu alguma afirmação duvidosa sobre o assunto? Confira abaixo 10 mentiras sobre a Vaza Jato e não deixe de responder as Fake News com esta matéria.
1. Glenn Greenwald é traidor/acusado de traição nos EUA
Mentira: Imagens em grupos de Whatsapp afirmam que o jornalista Glenn Greenwald é “traidor dos Estados Unidos”, ou ainda, acusado do crime de traição.
Verdade: O crime de traição é previsto no artigo 3º da Constituição dos Estados Unidos e também em leis estaduais, normalmente associado a colaborar com nações inimigas dos EUA em tempos de guerra. Glenn Greenwald jamais foi acusado ou condenado por traição. Em 2013, ele foi um dos jornalistas que levou a público a existência de programas secretos de vigilância global dos Estados Unidos, efetuados pela Agência de Segurança Nacional (NSA). Conhecido como “Caso Snowden”, a reportagem sobre o programa de espionagem da NSA ganhou o Prêmio Pulitzer de jornalismo em 2014 e, no Brasil, foi agraciado com o Prêmio Esso de Reportagem, por artigos publicados no jornal O Globo acerca do sistema de vigilância virtual dos Estados Unidos em território nacional.
2. David Miranda é acusado por terrorismo no Reino Unido
Mentira: Imagens em grupos de Whatsapp e Facebook afirmam que o hoje deputado federal David Miranda, marido do jornalista Glenn Greenwald, é acusado ou condenado por terrorismo no Reino Unido.
Verdade: Em 2013, David Miranda, que não ocupava cargo público, foi detido no aeroporto de Heathrow, em Londres. Ele era suspeito de carregar, em uma conexão entre Berlim e o Rio de Janeiro, documentos confidenciais divulgados por Edward Snowden, ex-funcionário da NSA, A Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos. À época, Miranda, que levava computador, DVDs, discos rígidos e pen drives, foi interrogado durante nove horas — máximo permitido pela lei britânica contra o terrorismo — e liberado sem acusações formais. Em 2016, a Corte de Apelações do Reino Unido reconheceu que a cláusula usada para justificar a detenção de Miranda em 2013 mostrou-se incompatível com a Convenção Europeia de Direitos Humanos, que protege a liberdade de expressão ligada a materiais jornalísticos.
3. Jean Wyllys é suspeito de ser o mandante do atentado a Jair Bolsonaro
Mentira: Imagens em grupos de Whatsapp e Facebook tentam criar uma “teoria da conspiração”, afirmando que Jean Wyllys é o “mandante” do atentado ocorrido contra Jair Bolsonaro em 6 de setembro de 2018, e de que o ex-deputado também seria responsável pelos vazamentos das conversas entre Moro e Dallagnol.
Verdade: Jean Wyllys jamais foi investigado, citado ou relacionado a qualquer processo sobre o atentado sofrido por Bolsonaro em Minas Gerais. A Polícia Federal concluiu que Adélio Bispo, autor da facada, agiu sozinho. E a Justiça de Minas Gerais considerou o autor do crime inimputável, por apresentar graves transtornos mentais. Na decisão, a Justiça decidiu também que Adélio deve ficar internado em um manicômio judiciário por tempo indeterminado.
4. O “Show do Pavão”
Mentira: Um perfil recém-criado no Twitter e já deletado, chamado “Pavão Misterioso” publicou um “documento” que teria sido extraído do computador de Greenwald. O documento falso “prova” transações que teriam sido feitas em criptomoeda, no valor de US$ 310 mil, para pagar um hacker para obter os dados do celular de Dallagnol. A farsa viralizou a ser compartilhada por perfis bolsonaristas nas redes sociais.
Verdade: No site BlockChain.com, que registra todas as transações em criptomoeda feitas no mundo, não há registros das transferências que teriam sido feitas por Glenn Greenwald. O texto do suposto documento, em inglês, contém vários erros de ortografia. Um jornalista postou um vídeo mostrando como o assunto foi fabricado por robôs e perfis falsos no Twitter. Fábio Malini, pesquisador da Universidade Federal do Espírito Santo, demonstrou graficamente que as interações envolvendo o “show do pavão” advinham de propaganda computadorizada, e não de perfis reais.
5. Greenwald ligou 17 vezes para Adélio no dia do atentado a Bolsonaro
Mentira: Circula em diversas redes a informação de que Glenn Greenwald teria ligado 17 vezes para Adélio Bispo, responsável pelo atentado contra Jair Bolsonaro em setembro de 2018, durante as eleições presidenciais.
Verdade: A Procuradoria Regional de Minas Gerais afirmou que a informação não procede, enquanto o Ministério Público Federal comunicou, em nota, que desconhece o assunto. A Agência Lupa publicou um informe sobre o caso.
6. Telegram confirmou que conteúdo das mensagens entre Moro e Dallagnol foi adulterado
Mentira: Uma mensagem atribuída à conta oficial do aplicativo Telegram no Twitter afirma que um hacker forjou o conteúdo das mensagens trocadas pelo coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, e o ex-juiz e atual ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro.
Verdade: O tuíte analisado pela Agência Lupa, atribuído à conta verificada do Telegram Messenger (@telegram), é falso. Trata-se de uma montagem, com vários erros de português. O texto que circula nas redes sociais foi colado sobre a resposta oficial da empresa para um usuário a respeito do vazamento das conversas.
7. Deltan e Moro tentaram barrar a candidatura de Fernando Haddad
Mentira: Uma imagem que circula nas redes sociais mostra o ministro da Justiça, Sergio Moro, e o procurador Deltan Dallagnol tramando o impedimento da candidatura do petista Fernando Haddad à Presidência da República em 2018.
Verdade: A imagem que faz menção ao caso é uma montagem. Na verdade, os diálogos revelados pelo The Intercept mostram que Deltan e Moro conversaram sobre impedir uma entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que de fato ocorreu. Nas mensagens, eles temem que a entrevista “poderia eleger o Haddad”.