Morre Derlei Catarina de Luca, a voz de SC na luta pelos direitos humanos
O Brasil perdeu neste sábado, Derlei Catarina de Luca. Aos 70 anos, a professora e escritora perdeu a batalha que travava contra o câncer. Catarinense, natural de Içara, Derlei era reconhecida no país como uma das principais vozes a denunciar os horrores praticados pela Ditadura Militar.
Trazia no corpo as marcas das intermináveis sessões de tortura a que foi submetida nas vezes em que ficou presa em São Paulo na Operação Bandeirantes (Oban). Após conseguir fugir, exilou-se no exterior e só voltou ao Brasil em 1979 com a Lei da Anistia.
Desde 1980 dedicou-se ao resgate da memória dos desaparecidos políticos nos anos de Chumbo. Fundou o Comitê Catarinense Pró-Memória dos Mortos e Desaparecidos e o Coletivo Catarinense Memória Verdade e Justiça. Participou ativamente aqui, em Brasília e São Paulo dos trabalhos para localização dos corpos. Sua maior batalha desde então foi a incansável pesquisa para descobrir o destino do amigo, o deputado catarinense Paulo Stuart Wrigth,, morto em 1973 e até hoje desaparecido.
Trajetória
Sua trajetória já foi contada em livro de sua própria autoria. Mas Derlei merece filme, documentário e tantas outras obras for possível produzir para retratar a história dessa mulher de coração gigante.
Derlei foi objetivo de inúmeras reportagens nos principais jornais de Santa Catarina. Em 2005, uma matéria assinada por Renê Müller e Marcos Espíndola, publicada no Diário Catarinense, foi finalista do Prêmio RBS de Jornalista. Sob o título o Bebê que driblou a Ditadura, os repórteres contaram a saga de Derlei, que teve de abandonar o próprio filho para fugir da perseguição política e só foi encontrá-lo anos depois.
Derlei era, antes e acima de mais nada, uma humanista, democrata convicta. Lamentavelmente, palavras em desuso em tempos de ignorância e intolerância nas redes sociais.
Católica praticante, neste momento deve estar ao lado de pessoas queridas como Paulo Stwart Wrigth e Luiz Carlos Cancellier. Gente que deu a vida na luta pela defesa da liberdade. Querida amiga Derlei, vá em paz. Você fez sua passagem por aqui valer a pena como poucos.
Por Rafael Martini, do Diário Catarinense.