Mulheres do mundo inteiro marcharão unidas em um 8 de março de luta
Feministas do mundo inteiro já avisaram: no dia 8 de março, as mulheres vão parar. Contra a violência doméstica, a desigualdade salarial, a misoginia, o feminicídio, a LGBTfobia, o racismo e a xenofobia, elas anunciam um movimento feminista internacional, unificando o combate ao machismo.
Uma greve internacional de mulheres foi convocada pelo movimento “Ni Una Menos”, da Argentina, e reforçada pelas mulheres dos Estados Unidos, que participaram ativamente no dia 21 de janeiro da Marcha das Mulheres contra Trump, realizada no dia da posse do novo presidente norte-americano.
No manifesto de intelectuais e ativistas feministas dos EUA convocando para o 8 de março unificado, publicado no início deste mês, intelectuais e ativistas de peso, como Angela Davis e Nancy Fraser, declararam: “Não basta se opor a Trump e suas políticas agressivamente misóginas, homofóbicas, transfóbicas e racistas. Também precisamos alvejar o ataque neoliberal em curso sobre os direitos sociais e trabalhistas. Enquanto a misoginia flagrante de Trump foi o gatilho imediato para a resposta maciça em 21 de janeiro, o ataque às mulheres (e todos os trabalhadores) há muito antecede a sua administração”.
Em relação ao peso da data para a luta das mulheres, as intelectuais e ativistas destacaram a importância de construir um movimento forte e unitário, com greve naqueles países onde for possível. “Como primeiro passo, propomos ajudar a construir uma greve internacional contra a violência masculina e na defesa dos direitos reprodutivos no dia 8 de março. Nisto, nós nos juntamos com grupos feministas de cerca de trinta países que têm convocado tal greve. A ideia é mobilizar mulheres, incluindo mulheres trans, e todos os que as apoiam num dia internacional de luta – um dia de greves, marchas e bloqueios de estradas, pontes e praças; abstenção do trabalho doméstico, de cuidados e sexual; boicote e denuncia de políticos e empresas misóginas, greves em instituições educacionais”.
Até o momento, grupos de mais de 30 países declararam que vão aderir ao 8 de março internacional.
Classe, gênero e raça
No Brasil, manifestações também estão sendo convocadas em várias capitais do país. Movimentos sindicais, sociais, feministas, antirracistas e antiLBTfobia estão se organizando para paralisações, atos públicos, atividades artísticas e várias outras formas de manifestação. Também haverá boicote a empresas e políticos que reforçam os discursos conservadores e misóginos.
Para Albanise Pires, da coordenação do Setorial Nacional de Mulheres do PSOL e presidenta do PSOL-PE, o 8 de março surge com a necessidade de unir as mulheres em torno da luta feminista, apesar das diferenças que possam existir entre os diversos movimentos. “Não podemos ter essa divisão porque estamos todas sendo oprimidas enquanto classe, enquanto gênero. Queremos ter mais mulheres participando da política e dos movimentos sociais, fortalecendo essa unidade”, explica.
Reformas
Além das pautas da greve internacional, há pontos específicos que as participantes pretendem ressaltar no ato. É comum para todos os estados, por exemplo, a luta pela descriminalização do aborto e a insatisfação com as reformas previdenciária e trabalhista, do governo de Michel Temer, nas quais é sabido que as principais prejudicadas serão as mulheres.
Um outro ponto a ser destacado no caso brasileiro é a inserção da pauta antirracista no movimento feminista nacional, mostrando a luta das mulheres negras em um país historicamente racista e sexista. “Pautar o antirracismo é algo inédito dentro do movimento, configura-se como uma resistência ao feminismo elitista”, comemora Keka Bagno, da Secretaria de Mulheres do PSOL-DF.
Amara Moira, travesti militante do PSOL-SP, também celebrou a participação cada vez mais abrangente de mulheres de vários extratos e lugares sociais nessa luta por direitos e igualdade. “Os movimentos sociais se abrirem para a participação de travestis e mulheres transexuais é algo que me faz acreditar que estamos num caminho positivo”.
Os atos estão marcados em pontos simbólicos de resistência em todo o Brasil, como na Praça dos Três Poderes, em Brasília; em frente à Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), no Rio de Janeiro; e na Praça da Piedade, em Salvador. “As mulheres estão unidas pra tentar barrar esse conservadorismo que vem crescendo”, completa Keka.